STF Inspira reuniu 12 palestrantes em evento com diversidade de histórias e propósitos de vida
Segurança alimentar, uso antirracista das tecnologias, educação transformadora e direitos humanos foram alguns dos temas que passaram pelo palco.

Na tarde de terça-feira (10), o Supremo Tribunal Federal (STF) realizou a primeira edição do STF Inspira. A proposta foi reunir no palco uma diversidade de palestrantes, como o presidente do Tribunal, ministro Luís Roberto Barroso; Nina da Hora, cientista da computação; Josa Alves, colaboradora do Supremo que liderou o serviço de limpeza após o 8 de janeiro; e Clayton Nascimento, ator e autor da peça “Macacos”.
O evento contou com 12 palestras de 15 minutos que foram transmitidas ao vivo pelos canais do STF e da TV e Rádio Justiça no YouTube e assistidas pelo público interno do STF. Veja aqui a íntegra da gravação ou acesse separadamente cada uma das palestras.
Entre relatos de temas e experiências sobre direitos, desafios profissionais e pessoais, novas tecnologias, educação, cultura e arte, conheça um pouco do que cada participante levou ao STF Inspira.
“A Constituição é sua” – Ministro Luís Roberto Barroso
Ao rememorar a sua própria trajetória de vida, o ministro explicou como a democracia constitucional prestigia a participação popular e submete governantes e governados às leis do país. “A Constituição é um projeto de país, em que estão abrigados valores que nos guiam como uma bússola para o futuro. Portanto, você pode não ter se dado conta, mas a Constituição existe para fazer a sua vida melhor e para fazer com que as pessoas se tornem a melhor versão de si mesmas”, disse o ministro.
Educação e felicidade – Gabriel Chalita
Advogado, escritor, professor e filósofo, Gabriel Chalita reforçou a necessidade de fomento às políticas públicas de educação e de uma visão educacional acolhedora. “Há milhões de mulheres e homens que, todos os dias, exercem um dos ofícios mais bonitos da vida, que é o exercício da generosidade. Um professor deixa um pouco do que ele sabe e um pouco do que ele é na sala de aula. Viva os nossos professores.”
Para vencer o racismo – Gabriel Sampaio
O advogado e diretor da Conectas Direitos Humanos abordou a questão do racismo estrutural e como o direito ajuda a corrigir injustiças na vida das pessoas. “Sendo uma pessoa negra, como eu, você começa a perceber, na prática, o quanto os quase quatro séculos de escravidão influíram para essa condição. Reconhecer o papel dos direitos humanos e sua história é algo que nos une, independentemente das nossas diferenças.”
Segurança alimentar – Mariana Aleixo
Para a coordenadora dos projetos Maré de Sabores e Casa das Mulheres da Maré, “apesar de o Brasil ter uma robusta história com a segurança alimentar e leis que a amparam, muitas pessoas ainda sentem fome, principalmente nas favelas”, disse.
Território-casa – Isis Ayres
A jovem caiçara Isis Ayres, que integra o Observatório de Territórios Saudáveis e Sustentáveis da Bocaina, expôs sobre os conflitos fundiários e territoriais que ainda ameaçam comunidades tradicionais país afora. “As comunidades tradicionais caiçaras são comunidades ligadas à pesca, à agricultura e ao extrativismo, que preservam a biodiversidade e são patrimônio cultural vivo. Eu tenho muito orgulho de dizer que eu sou de uma comunidade que resiste, apesar de todos os conflitos e estragos em seu território.”
Tinta de sangue – Christus Nobrega
O artista plástico e professor de artes visuais Christus Nobrega falou sobre o preconceito contra os homossexuais. Ele narrou que foi impedido de doar sangue pelo fato de ser homossexual, apesar de, a partir da análise técnica em julgamento no STF, ter sido derrubado o argumento de que o sangue dos homossexuais representaria risco sanitário à saúde pública. Para transpor a questão e estimular uma reflexão, o artista criou o projeto Sudário e, após processo químico, transformou seu próprio sangue em tinta para ser usada em impressora.
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Faça sua parte – Josa Alves
A colaboradora do STF, Josa Alves, liderou a equipe de limpeza que cuidou da reconstrução da Suprema Corte após os ataques de 8 de janeiro de 2023. No STF Inspira, ela compartilhou o relato de como foram aqueles dias. “Foi muito impactante nos deparar com toda a destruição. Estava tudo quebrado, uma tristeza imensa. Não foi fácil, era muita coisa, mas a gente fez a nossa parte. O que aprendi com aquilo e que deixo aqui como mensagem é que a gente sempre pode fazer a nossa parte.”
Educação, cultura e arte – Clayton Nascimento
O ator, dramaturgo e diretor Clayton Nascimento relembrou as dificuldades da infância e da juventude e disse que sua vida foi transformada por meio da educação, da cultura e da arte. “Eu estudei o que aconteceu na formação e na construção do Brasil pelas mãos de pessoas pretas, que não estão nos livros didáticos. Isso deu origem a dramaturgia da peça ‘Macacos’, em que eu falo sobre a primeira lei de educação no Brasil, que não incluiu o povo negro.”
Uso antirracista das tecnologias – Nina da Hora
A cientista da computação e ativista pela democratização de direitos digitais e uso antirracista de tecnologias aproveitou a oportunidade para tratar da relação de poder no acesso aos estudos. Ela falou de histórias de mulheres, inclusive a dela, que tentaram acesso a determinadas áreas do conhecimento, mas tiveram as pretensões limitadas por pessoas que admiravam. “Hoje, meu objetivo é criar oportunidades de engajar as pessoas, diferentemente de como eu não fui engajada em momentos muito importantes da minha trajetória.”
Da lavoura à sala de aula – Rodrigo Bento
Quem também falou sobre o papel transformador dos estudos foi o servidor do STF e organizador de projetos sociais na área da educação, Rodrigo Bento. Ele é um dos idealizadores de curso preparatório gratuito para concursos, formado por uma rede de professores solidários. “Mais de 10 mil pessoas já passaram pelo curso, que aprovou mais mil pessoas. Atualmente, contamos com cerca de 200 alunos que participam das aulas, em Planaltina. Nossa missão é ajudar a vida do próximo.”
Sem barreiras – Mariana Guedes
A colaboradora do STF e ativista em prol da acessibilidade e inclusão de pessoas com deficiência Mariana Guedes contou como lidou com o episódio transformador que a tornou paraplégica. Ela é a primeira brasileira cadeirante a atravessar um cânion, já pulou de paraquedas e fez intercâmbio em uma comunidade mexicana que nunca tinha tido contato com uma “pessoa com disposição”, brincadeira que ela faz com a abreviatura PcD, empregada para se referir às pessoas com deficiência. “Eu uso o meu lugar de fala e a minha voz para levar informação para as pessoas com o desejo de reduzir as barreiras. A deficiência é uma construção social, e nós precisamos desconstruir isso. O capacitismo mata.”
Juíza-ouvidora – Flávia Martins
Ao encerrar as apresentações do STF Inspira, a juíza-ouvidora do Tribunal Flávia Martins de Carvalho falou sobre a proposta do encontro. “Inspirar é uma palavra que tem tantos sentidos. Aqui, a ideia foi trazer para o palco do Supremo gente que dá sentido a esse Tribunal, gente de dentro e de fora do STF que ajudou a construir esse evento direta ou indiretamente. Acho que mesmo quem tava totalmente fechado a qualquer tipo de inspiração vai sair daqui inspirado, porque são histórias verdadeiras, histórias de vida.”
Intervenções artísticas
O STF Inspira também teve a presença da atriz, poetisa e escritora Elisa Lucinda que recitou poemas, cantou músicas e instigou o público a pensar sobre atitudes normalizadas que encobrem o preconceito racial no Brasil.
O evento teve ainda a apresentação da orquestra do Projeto Fábrica de Som, formada por crianças e adolescentes e mantida pela Associação das Defensoras e Defensores Públicos de Mato Grosso do Sul (ADEP/MS) e o lançamento de exposição “Floricultura”, do artista plástico Christus Nóbrega, em cartaz no Salão dos Bustos.
(Pedro Scartezini/AL//LM)