Pesquisadora da UNIFESPE afirma existir alternativas à utilização de células-tronco embrionárias para a pesquisa científica

A doutora Alice Teixeira Ferreira, médica, professora associada de biofísica da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESPE/EPM), coordenadora de estudos pré-clínicos com células-tronco adultas e professora-orientadora de biologia molecular e celular, afirmou que não é indispensável a utilização das células-tronco embrionárias na pesquisa científica.
Participando da primeira rodada de apresentações, pela manhã, a doutora explicou que células-tronco embrionárias são aquelas retiradas, mecanicamente, do embrião em sua fase de blastocisto (entre cinco a seis dias após a fecundação) e as células-tronco adultas são todas aquelas encontradas após a formação dos tecidos e órgãos do corpo e são.
A pesquisadora paulista divulgou que sessenta por cento dos pais de embriões congelados, nos Estados Unidos, desistiram de ceder os embriões para pesquisa, após terem visto fotos desses embriões “estourados” para o recolhimento das células. "Eles optaram, corajosamente, por adotar embriões, congelados após até sete anos, que resultaram em crianças sadias". A coragem desses pais é decorrente do fato de que, o congelamento, como é sabido, pode levar à má-formação.
No Brasil, em maio de 2005, nasceu uma menina gerada de um embrião congelado por seis anos, não se tratando, portanto, da possibilidade técnica mais desenvolvida dos Estados Unidos que possibilitou o êxito dessa intervenção. Em conclusão, argumentou a doutora Alice, não há certeza científica, de que os embriões congelados há mais de três anos seriam inviáveis e, conseqüentemente, se prestando para a pesquisa científica.
No mundo todo, e em pesquisas realizadas pela própria cientista com embriões de camundongos, não se tem resultado positivo algum com o uso de células-tronco embrionárias. A doutora Alice afirmou que “não há certeza científica de que embriões congelados há mais de três anos seriam inviáveis”.
A defesa científica para o uso das células-tronco diz que elas são pluripotentes, ideais para o tratamento de doenças degenerativas e que ampliariam o conhecimento das células-tronco adultas. A professora paulista expôs os resultados de pesquisas mostram aplicações de células-tronco adultas em 75 diferentes doenças.
No entanto, a professora paulista afirma categoricamente, com base em evidências científicas, que a célula-tronco parcialmente, ou mesmo totalmente diferenciada, pode voltar a assumir sua característica original de célula pluripotente. Essa foi a primeira demonstração comprovada, em animais, de que se pode transformar cálulas-tronco adultas em células com características embrionárias.
A pesquisadora relatou outra experiência, no mesmo sentido, na qual o cientista Francisco Silva, na Califórnia (EUA), usou células espermatogônias (germinativas, masculinas, existentes no testículo humano) para transformá-las em células de características de células embrionárias. Para a doutora Alice isso significa que “eu posso agora fazer um auto transplante de células embrionárias humanas em indivíduos do sexo masculino”. Para isso, segundo a professora, “eu recolho as espermatogônias, reverto elas para o estado embrionário, tenho elas em estado pluripotentes, que se multiplicam bastante, e posso tê-las em número suficiente para tratar qualquer doença degenerativa.”
A doutora Alice, diz que no caso das mulheres, também se pode utilizar as células chamadas ovogônias e revertê-las para o estado de células com características embrionárias, podendo ser implantadas na mulher em caso de regeneração celular. Assim, conclui a pesquisadora, “tanto no homem como na mulher, temos experiências com células germinativas (já diferenciadas) que podem ser revertidas para células com características de células embrionárias, pluripotentes, que podem ser utilizadas na medicina regenerativa”.
A professora paulista expôs diversas pesquisas que indicam o caminho da medicina regenerativa a partir de células-tronco do cordão umbilical. Assim, com o avanço dessas pesquisas, a partir dessas células poderão ser “fabricados” tecidos que servirão para auto-transplante de órgãos vitais, assim como testar remédios para um tratamento personalizado.
No futuro, afirma a pesquisadora, “nós não vamos precisar das células-tronco, basta termos o conhecimento dos fatores que vão agir sobre essas células, para que elas próprias se encarreguem de recuperar os danos das doenças degenerativas”.
A doutora sugeriu à classe médica a criação de um banco de líquido amniótico, que após o parto é dispensado, para aproveitamento futuro. Para a pesquisadora, todos os relatos provam que não há necessidade de utilizar células-tronco embrionárias, que sacrifiquem o embrião humano, face às alternativas por ela apresentadas.
IN/LF
Doutora Alice Teixeira Ferreira, médica, professora associada de biofísica da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESPE/EPM). (cópia em alta resolução)