Ministros do STF lamentam morte do advogado Raymundo Faoro

15/05/2003 19:21 - Atualizado há 5 meses atrás

Após o final da sessão plenária de hoje (15/5), o presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio, e os ministros Maurício Corrêa e Sepúlveda Pertence lamentaram a morte do advogado e integrante da Academia Brasileira de Letras, Raymundo Faoro.


Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil entre 1977 e 1979, Faoro é considerado um dos articuladores da luta pelo restabelecimento da democracia no Brasil no final da década de 70.


“É uma hora de reflexão, considerada a trajetória daquele que nos deixa”, afirmou Marco Aurélio, apontando que o legado deixado por Raymundo Faoro “acena dias melhores para os brasileiros”. O presidente do STF considera o jurista um “exemplo, um grande artífice do Direito, homem de formação humanística insuplantável e um batalhador pelo robustecimento da cidadania”. Marco Aurélio também divulgou nota à imprensa sobre o falecimento do advogado (leia abaixo a íntegra do texto).


O ministro Sepúlveda Pertence lembrou que teve “a ventura de ser contemporâneo de Raymundo Faoro quando este estava na presidência da OAB” e pôde acompanhar o “papel decisivo que o notável intelectual teve naqueles momentos em que o sistema começou a pavimentar o caminho da retomada do processo democrático”. “Foi um homem público da maior grandeza”, declarou.


A obra “Os Donos do Poder” foi mencionada pelo ministro Maurício Corrêa, apontando que o livro “marcou a vida intelectual brasileira”. “Na vida institucional do Brasil, no que tange a mudanças, Faoro é de capital importância”, concluiu.


Leia a íntegra da nota do presidente do STF:


“Artífice insuplantável do Direito, Raymundo Faoro deixa legado ímpar – a visão límpida da cidadania. A trajetória revelou coragem, síntese de todas as virtudes, servindo à reflexão daqueles comprometidos com a democracia, com as idéias republicanas, com o Estado Democrático de Direito. Em nossas memórias estará sempre e sempre o exemplo de homem público, de cidadão preocupado com o bem-estar dos brasileiros, com o respeito às instituições, com a obrigação do Estado de zelar pela segurança na vida em sociedade.


Brasília, 15 de maio de 2003.


Marco Aurélio”.



Biografia
 
Raymundo Faoro nasceu em Vacaria, no Rio Grande do Sul, e foi eleito em novembro de 2000 para a cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Letras (ABL), na sucessão de Barbosa Lima Sobrinho.


Filho de agricultores, depois de 1930 sua família mudou-se para a cidade de Caçador (SC). Lá fez o curso secundário, no Colégio Aurora. Formou-se em Direito, em 1948, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Transferiu-se, em 1951, para o Rio de Janeiro, onde advogou e fez concurso para a Procuradoria do Estado, de onde se aposentou.


Além de jurista, foi um dos mais importantes cientistas sociais brasileiros, autor de ensaios de Direito e Ciências Humanas. Em sua obra “Os donos do poder”, publicada em 1958, analisa a formação do patronato brasileiro. Busca as raízes de uma sociedade na qual o poder público é exercido, e usado, como se fosse privado. É um teorema que Faoro demonstra percorrendo a história luso-brasileira dos seus primórdios até Getúlio Vargas e antecipando os rumos seguintes. Seu livro pe considerado uma obra-prima da literatura brasileira.


No ensaio “A pirâmide e o trapézio”, publicado primeiramente em 1974, Faoro interpreta a obra de Machado de Assis, cuja mensagem está na análise profunda da sociedade carioca no final do século XIX. Ao escrever seu ensaio, considerou os estudos machadianos existentes até o início dos anos 70.


Foi presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, de 1977 a 1979. Lutou pelo fim dos Atos Institucionais e ajudou a consolidar o processo de abertura democrática nos anos 70.


No governo João Figueiredo lutou pela anistia ampla, geral e irrestrita. Com a anistia e a retomada das liberdades políticas, tornou-se personalidade assediada por políticos como Tancredo Neves e Luiz Inácio Lula da Silva. Lula inclusive lhe propôs que entrasse na disputa presidencial em 1989, como candidato a vice-presidente, mas ele não aceitou.


Suas obras foram: “Os donos do poder” (1958), “Machado de Assis – A pirâmide e o trapézio”, de 1975; “A Assembléia Constituinte – A legitimidade recuperada” (1980) e “Existe um pensamento político brasileiro?”, editada em 1994.



JY/AMG/AMG//SS

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