Mais de 500 mil pessoas que lotaram os estádios neste fim de semana veem campanha Começar de Novo

Na última rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol 2009, 20 clubes, em 10 estádios espalhados pelo País, entraram em campo neste domingo (6) para divulgar o projeto “Começar de Novo”, uma iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Com faixas apresentadas pelos jogadores com os dizeres “Trabalho para ex-detentos. Mais Segurança para Todos”, Clube dos 13, CBF e CNJ sensibilizam o público de mais de 500 mil espectadores para o problema da reinserção de presos na sociedade.

07/12/2009 09:31 - Atualizado há 9 meses atrás

Na última rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol 2009, 20 clubes, em 10 estádios espalhados pelo País, entraram em campo neste domingo (6) para divulgar o projeto “Começar de Novo”, uma iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Com faixas apresentadas pelos jogadores com os dizeres “Trabalho para ex-detentos. Mais Segurança para Todos”, Clube dos 13, CBF e CNJ sensibilizam o público de mais de 500 mil espectadores para o problema da reinserção de presos na sociedade. O objetivo do projeto é criar oportunidades de emprego a egressos do sistema prisional como uma das formas de se reduzir a criminalidade no Brasil.

No Rio, a faixa foi aberta no gramado pouco antes de começar o jogo no Maracanã, que resultou na conquista do “Brasileirão” pelo Flamengo ao derrotar o Grêmio por 2 a 1.

O presidente do Flamengo, Márcio Braga, ficou contente ao ver o time colaborando com o projeto do CNJ. Para ele, “é o programa mais efetivo que vejo no momento para o combate à violência”. Braga lembrou que o futebol é a paixão nacional e, por isso, “é importante passar uma mensagem de recuperação para ex-detentos”.

O zagueiro rubro-negro Ronaldo Angelim, autor do 2º gol, que deu o título ao Flamengo, reconheceu que “essa campanha é importante por dar oportunidade de emprego a essas pessoas. Isso faz com que não voltem ao crime. Essa campanha vai ajudar a melhorar nosso país”. 

Túlio, um dos jogadores da equipe do Grêmio que levou a faixa ao gramado, disse que “todo mundo erra na vida e essas pessoas já cumpriram a pena diante da sociedade. Então é justo dar oportunidades de trabalho”.

No Morumbi, a partida entre São Paulo e Sport Recife (4×0) contou com a presença do presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes. “Nós sabemos a paixão que os brasileiros dedicam ao futebol. Daí a importância dessa iniciativa, que conta com a colaboração do Clube dos 13 e da CBF”, disse o ministro em entrevista.

Apesar de ser santista, o ministro Gilmar Mendes assistiu com entusiasmo ao jogo entre São
Paulo e Sport Recife. A torcida aplaudiu entusiasmada os jogadores dos dois times, que se mostraram engajados em contribuir para o fim do preconceito contra aqueles que já pagaram suas penas perante a Justiça.

Reincidência

Segundo o ministro, o programa “Começar de Novo”, além de contribuir para a reinserção social de presos e egressos do sistema carcerário, por meio da capacitação e da abertura de oportunidades de trabalho, evita a reincidência, “está aí a importância desse trabalho que tem um conteúdo humano com foco na segurança pública. Queremos com isso sensibilizar os órgãos públicos e as empresas privadas a dar uma chance aos egressos”, chancelou.

Para o técnico do São Paulo, Ricardo Gomes, a campanha do CNJ “recupera o cidadão ao dar oportunidade de emprego, reduzindo o risco de ele voltar à criminalidade”. Já o jogador Washington, autor de três dos quatro gols do São Paulo contra o Sport, acha que a parceria do Clube do 13 com o CNJ para divulgar o Projeto “Começar de Novo” é importante “e eu espero que os empresários deem oportunidade de trabalho para que os ex-presos possam voltar à vida social. A gente apoia e torce muito para que haja novas oportunidades e com certeza a redução da criminalidade”.

Outros jogos

São Paulo, Flamengo, Grêmio e Sport Recife não foram os únicos times a participar da divulgação do programa. Outros jogos da última rodada do Campeonato Brasileiro, neste sábado e domingo, tiveram faixas exibidas nos estádios pelas equipes de futebol. A ideia é estimular empresas, órgãos públicos e instituições a oferecer vagas de trabalho a ex-detentos, como forma de garantir a reinserção social e combater a criminalidade.

Na outra partida em terras cariocas, Botafogo e Palmeiras, que se enfrentaram no estádio do Engenhão, craques de hoje e de ontem elogiaram a iniciativa do CNJ. O ídolo Dozinete, o “Pantera”, estava no estádio para assistir à partida e, quando foi informado sobre a campanha, saudou a iniciativa. “Isso é uma coisa muito legal e mostra que ainda existe preocupação com as pessoas que pecam, com as pessoas que têm esses problemas na vida, que todos podem passar, a gente não sabe o dia de amanhã. Eu acho o projeto muito legal e desejo que essa iniciativa possa render bons frutos”, afirmou.

Os jogadores botafoguenses Renato, Wellington e Lúcio Flávio disseram que todos merecem uma segunda chance depois que cometem erros. Com bom humor, Wellington, autor do primeiro gol contra o Palmeiras, chegou a comparar o slogan da campanha do CNJ – Começar de Novo – ao momento atual do Botafogo. "Depois de se livrar do rebaixamento, a meta do time agora é disputar o próximo campeonato para ser campeão e não para atuar se segurando para não cair para a Série B". A vitória de 2 a 1 sobre o Palmeiras livrou o clube de deixar a elite do Campeonato Brasileiro.

O técnico do Botafogo, Estevam Soares, classificou a ressocialização como “um direito básico” do ex-detento, mas destacou a necessidade de melhoria do sistema carcerário brasileiro. “É preciso criar mecanismos para que esse indivíduo realmente se ressocialize ainda lá dentro. Eu acho que é um fator já primordial para quando ele sair ter essa oportunidade e ser mais aceito na sociedade. Se o detento receber um tratamento melhor dentro da cadeia, ele vai sair de lá mais calmo, com mais chance de seguir o caminho do bem”, acredita.

O presidente do Botafogo, Maurício Assunção, afirmou que o time é parceiro dessa ideia e ressaltou a importância de projetos de responsabilidade social como o “Começar de Novo”. “Eu não tenho acesso a números, mas sei que o número de reincidência é muito alto. Muitos daqueles que saem da penitenciária depois de terem cumprido a pena, retornam. Quando os clubes dão esse exemplo, quando trazem para si essa responsabilidade – como o Botafogo está fazendo não só em relação ao ‘Começar de Novo’, mas também com comunidades carentes -, eu acho que isso é importante. Os clubes de futebol são entidades sem fins lucrativos e que têm essa obrigação social”, afirmou o dirigente. Segundo o conselheiro do CNJ, Nelson Braga, que assistiu ao jogo Flamengo e Grêmio, a reincidência hoje no Brasil é de 70%.

Palmeiras

Os jogadores do time paulista deixaram o Engenhão sem dar entrevistas após o jogo, mas o técnico do clube, Murici Ramalho, comentou a importância do “Começar de Novo” e a parceria com o Clube dos 13 e a CBF. Ele considera fundamental que a oportunidade de emprego seja dada ao ex-detento que apresentar bom comportamento e que faça por onde merecer.  “Se ele for um detento realmente que se comporta bem, que quer voltar para a sociedade, porque ele tem que merecer também, alguém tem que estender a mão. Nesse processo, o que a gente percebe no Brasil é que a penitenciária não recupera ninguém: o cara entra e sai, entra e sai. Então com certeza o que estão fazendo é muito correto, é uma chance de alguém estender a mão para eles. Eu acho que a ajuda do futebol é muito importante porque a gente tem uma imagem muito boa, ou seja, todo mundo tá vendo”, afirmou o treinador.
 

Jogo Santos x Palmeira - Materia  Foto: Nelson Jr.

No embate Santos e Cruzeiro, na Vila Belmiro, a iniciativa do CNJ foi louvada pelo treinador santista, Vanderlei Luxemburgo. Para ele, esta é uma maneira de se dar uma oportunidade a quem cometeu algum delito. “Você cometeu um delito e foi preso e, de repente, volta para a sociedade, mas não tem onde trabalhar… Ver seu filho passando fome, passando problema, você começa a pensar: não vou mais fazer bobagem porque tô (sic) empregado. Então, por esse aspecto, vale muito esse projeto”, comenta.

Para o meio-campo Paulo Henrique, do Santos, “esse projeto é muito importante até pra dar uma segunda chance pra todo ser humano”.

Beira-Rio

Jogo Internacional x Santo André - Matéria  Foto: Mauro

Segunda chance, aliás, foi a expressão mais repetida pelos jogadores do Internacional ao comentarem o projeto. "Que todas as empresas do Brasil escutem isso e possam dar uma oportunidade de emprego para essas pessoas que um dia cometeram algo de errado, mas que merecem uma segunda chance, com certeza", disse o meio-campista Sandro, do time colorado.

Sob os olhares dos mais de 36 mil torcedores que foram ao estádio Beira-Rio neste domingo (6) acompanhar o jogo do vice-campeão Inter contra o Santo André, pela última rodada do Campeonato Brasileiro de 2009, jogadores do time da casa e do visitante entraram em campo carregando a faixa do CNJ convencidos de que se deve dar uma segunda chance às pessoas quem cumpriram pena de prisão.

Ao frisar que ninguém se entrega para a vida do crime de graça, o centroavante Alan Kardec concordou com o colega Sandro. Para ele, se alguém “cai no crime” é porque sente ausência de alguma coisa. "Acredito que se houver uma”oportunidade, uma segunda chance para as pessoas mostrarem seus valores, acredito que será muito importante para a sociedade", disse o jogador.

O outro meio-campo do Inter, Giuliano, chegou a comparar o ex-presidiário a um jogador de futebol que erra um pênalti. "Muitas vezes acontece de ter um pênalti, o jogador vai lá e erra. Mas sempre acaba tendo uma segunda oportunidade", exemplificou. "Então nós somos exemplos disso. Acho que eles são seres humanos como a gente, que erraram, que falharam, e pagaram a consequência por isso. Depois que voltam a ter uma vida normal, merecem ter uma oportunidade de trabalho, oportunidade de ser uma pessoa melhor e de conseguir reconstruir a vida e a família, assim como todos nós".

Os três fizeram questão de elogiar o programa "Começar de Novo", e revelaram acreditar que a iniciativa reduzirá a criminalidade.

O jogo acabou com o placar de 4×1 para o Internacional. O resultado garantiu o vice-campeonato para o time gaúcho, que tem lugar garantido na Copa Libertadores da América do próximo ano.

Programa

O programa "Começar de Novo" é um conjunto de ações que visam sensibilizar órgãos públicos e a sociedade civil sobre a necessidade de ressocialização dos detentos e egressos do sistema prisional. Por meio de campanhas publicitárias, o projeto também pretende reduzir o preconceito em relação aos presos. Trabalha ainda com a formação de parcerias com empresas, entidade civis e órgãos públicos que possam oferecer cursos de capacitação profissional e oportunidade de emprego.

Entre as empresas e entidades que são parcerias do projeto estão a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, o Sesi, o Senai, a Itaipu Binacional, Federação Brasileira de Bancos, Fundação Santa Cabrini, além dos tribunais de Justiça que firmam convênios para que os presos possam trabalhar nos órgãos do Judiciário.

Nova adesão

O Governo do Estado de São Paulo e a prefeitura de São Paulo, também vão aderir ao Programa “Começar de Novo”, com a assinatura de acordo com o presidente do CNJ, ministro Gilmar Mendes, nesta segunda-feira (7), em evento a ser realizado às 14h30, no Palácio dos Bandeirantes, com a presença do governador José Serra, do prefeito Gilberto Kassab e do secretário de Emprego e Relações de Trabalho, Guilherme Afif Domingos.

VP/MB/LC//AM, com informações do CNJ e fotos da Secretaria de Comunicação Social do STF

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