Endocrinologista define aborto de anencéfalos como “volta à barbárie”
A representante da Associação para o Desenvolvimento da Família (Adef), Ieda Therezinha Verreschi, disse que há vida humana no feto anencéfalo e, por isso, retirá-lo do útero antes do momento do parto seria “um retorno da sociedade à barbárie”.
Na audiência pública sobre a interrupção da gravidez de fetos sem cérebro, que ocorre neste momento no Supremo Tribunal Federal, a médica alertou para o risco de se avaliar o ser humano só pela sua eficiência. “Na intolerância diante do imperfeito perderíamos a capacidade de amar, o que diminui o ser humano”, disse.
Ela explicou que o grau de anencefalia varia de acordo com o desenvolvimento do sistema endócrino-fetal, condicionado pela formação da hipófise na base do cérebro. “De 40% a 60% nascem vivos, mas é certo que apenas 8% sobrevivem por mais algum tempo depois do parto”, disse a especialista em endocrinologia. Ela frisou que alguns anencéfalos têm hipófise.
Ieda declarou que o próprio feto produz substâncias que o protegem de ser expulso do útero (por ser um corpo estranho ao da mãe) e libera esteróides que o acompanham na vida uterina e são essenciais no momento do parto. “Muitos morrem ao sair do útero por falha dessas substâncias”, explicou. No feto anencéfalo, essa unidade de precursores hormonais é doente e, dependendo do grau de comprometimento dos hormônios, que é variável, o bebê vive mais ou menos tempo.
A médica lembrou que a anomalia tem um alto índice de ocorrências no Brasil: um a cada mil nascidos vivos é anencéfalo e a má-formação é quatro vezes mais freqüente no sexo feminino.
Ela avaliou que a sociedade deveria buscar eficiência para prevenir novos casos. “Somos deficientes no controle das águas e da emissão de pesticidas como os organoclorados, que dobram as chances de anencefalia”, afirmou. Ela ressaltou que o ácido fólico também é essencial para a formação perfeita do tubo neural.
MG/EH