Desembargador Mello Serra relembra detalhes do primeiro estágio do ministro Marco Aurélio
A pontualidade é uma das virtudes do ministro Marco Aurélio desde os tempos de estagiário, assim como o interesse em encontrar a verdade dos autos, custe o que custar. A afirmação foi feita pelo desembargador aposentado Ederson de Mello Serra, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), 83 anos. Ele foi orientador do ministro em seu primeiro estágio, quando ele cursava a Faculdade Nacional de Direito (atual Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ). O estágio de pouco mais de um ano, não remunerado, foi feito na 11ª Vara Cível do Rio de Janeiro, da qual Mello Serra era juiz titular.
O parentesco fez do jovem estudante o estagiário mais próximo do juiz. A mãe de Mello Serra era irmã do pai do ministro Marco Aurélio, Dr. Plínio Affonso de Farias Mello. Mas a familiaridade não significou nenhuma mordomia ou facilidade. “Muito pelo contrário. Eu era muito rígido. Ele sofreu na minha mão. Não chegava atrasado nem pedia para sair cedo. E sempre que eu encontrava meu tio, ele me perguntava como Marco Aurélio estava se saindo. E eu dizia a verdade: que ele era ótimo”, conta o simpático Dr. Mello Serra, que hoje atua como consultor jurídico e advogado com escritório “sito à Avenida Churchill, nº 129, 2º andar, às suas ordens”.
O jovem estudante sempre foi muito aplicado. Depois de ser apresentado formalmente ao processo, com lições sobre regras de autuação, numeração e sobre as certidões anexadas pelo escrivão, que compunham as “escadas” para o processo avançar, Marco Aurélio teve o primeiro contato com a petição inicial – a peça que dá origem ao processo judicial. Ele passou a examinar as iniciais e fazia um relato ao primo juiz. “Ele verificava tudo com muito cuidado: a inicial, o assentamento legal, as provas, e depois me relatava. Como sempre tive muito medo de errar, a ajuda dele me deu certo alívio”, relembra Mello Serra.
“A petição inicial é como o vestido de noiva. Não tem que ser só bonito, deve envolver a moça numa aura, fazendo dela a pessoa mais admirada naquele momento, porque, se não for assim, a crítica será impiedosa e ela vai se sentir triste”, compara Mello Serra, com bom humor. Para o primeiro orientador do ministro Marco Aurélio, a maior das suas virtudes é a coragem. “Ele sempre teve muita coragem de buscar a verdade, ainda que contrariasse amigos, ainda que fosse voz isolada. Ele sempre teve o cuidado para examinar o fato e as provas, foi a primeira virtude que encontrei nele, virtude que permanece”, afirma.
Outra habilidade que foi notada pelo juiz, já naquela época, foi o estilo de escrever. “Ele tinha preocupação com tudo que escrevia. Era parcimonioso no uso de adjetivos e, por isso, quando os utilizava, dava a eles uma ênfase muito especial, o que tornava muito agradável o seu estilo”, elogia. O ministro e o primo se encontram até hoje. “Ele sempre me distingue. Gosta de conversar. E para um velho como eu, é muito bom quando tem alguém para ouvir a gente, como você está fazendo agora, muito obrigado, minha filha”, agradeceu Mello Serra ao final da conversa.
VP/EH