Muito além do rótulo: o que você precisa saber sobre o diagnóstico do autismo

10/04/2025 16:41 - Atualizado há 4 dias atrás
Imagem com fundo azul escuro. No centro, está escrito

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica que envolve particularidades no desenvolvimento, especialmente nas áreas da comunicação, interação social, comportamento e sensibilidade a estímulos. Só que, ao contrário do que muita gente imagina, o autismo não tem uma manifestação única — e é por isso que ele é chamado de “espectro”.

A noção de espectro remete à ampla variedade de formas como o transtorno pode se apresentar. Há pessoas autistas que se comunicam fluentemente, enquanto outras não desenvolvem a fala. Algumas têm grande autonomia, e outras necessitam de suporte contínuo para realizar tarefas cotidianas.

Diagnóstico

Segundo Gustavo Tozzi, psicólogo clínico e analista do comportamento, o processo diagnóstico envolve a combinação de observações diretas e indiretas, entrevistas com familiares, aplicação de testes, avaliações comportamentais e, quando necessário, observações em diferentes contextos, como a escola e o ambiente doméstico. “É preciso reunir o máximo de informações possível sobre o funcionamento da pessoa avaliada”, destaca.

O ideal é que o diagnóstico seja realizado na infância, quando os primeiros sinais costumam aparecer. Alguns dos indícios são dificuldade para manter contato visual, para compartilhar interesses com outras pessoas (como apontar ou acompanhar o olhar), resistência a mudanças de rotina e reações atípicas a sons, luzes ou texturas.

Também pode haver comportamentos repetitivos — como balançar as mãos ou o corpo —, além de interesses muito restritos por temas ou objetos. Ainda assim, vale reforçar: cada pessoa é única. Por isso, o diagnóstico não se baseia em um único sinal, mas em um conjunto de características que devem ser avaliadas de forma individual e criteriosa.

Quanto mais cedo ocorre a identificação, maiores são as chances de implementar intervenções eficazes e promover um desenvolvimento saudável. Isso acontece porque o cérebro das crianças pequenas têm uma maior capacidade de adaptação, o que os especialistas chamam de plasticidade neuronal.

No entanto, não existe uma “idade certa” para diagnosticar. A recomendação é procurar avaliação especializada assim que forem percebidos sinais importantes no desenvolvimento.

Aumento de casos

O número de diagnósticos de TEA tem aumentado em todo o mundo, mas isso não significa, necessariamente, que mais pessoas estão desenvolvendo o transtorno. Segundo Tozzi, esse crescimento está relacionado à ampliação dos critérios diagnósticos, ao maior preparo dos profissionais e ao aumento da conscientização social sobre o espectro.

Além disso, muitas meninas e mulheres, antes negligenciadas nos processos diagnósticos, estão sendo identificadas mais tardiamente. Isso se deve, em parte, à apresentação de sinais mais sutis ou à adoção de estratégias de camuflagem social, um fenômeno conhecido como masking, que pode dificultar a identificação do autismo.

Tozzi ressalta que o diagnóstico não deve ser encarado como um peso, mas como uma chave para o autoconhecimento. “Longe de ser um rótulo limitador, o diagnóstico pode ser libertador. Ele promove acolhimento e uma compreensão mais ampla de si mesmo.”

O psicólogo também reforça que o autismo não é algo a ser “curado”, mas uma forma de funcionamento cerebral. “Estamos lidando com uma maneira diferente de existir que merece ser compreendida e respeitada em sua singularidade.”

Compreender o diagnóstico é abrir espaço para que cada pessoa, com seu jeito único de ser, encontre acolhimento, respeito e oportunidades reais de desenvolvimento. Afinal, como lembra Tozzi, “a diversidade neurológica sempre existiu e sempre existirá. Não há um único padrão de ser humano.”

Abril Azul

O Abril Azul é uma campanha que reafirma o compromisso do Supremo com a valorização da neurodiversidade e a promoção da acessibilidade. Ao longo do mês, conteúdos informativos serão divulgados nos canais de comunicação do STF, com o objetivo de fortalecer a inclusão e o respeito às diferenças.

(Cairo Tondato//AL)

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