Obras construtivistas enriquecem espaços no STF
Conheça o artista por trás das obras que celebram a arquitetura de Brasília com cores vibrantes e formas geométricas.
Um painel em cores vivas, com padrões retangulares e símbolos (abstratos e concretos), que faz lembrar os mosaicos de azulejos tão típicos de Brasília. Quem vê a obra no corredor que dá acesso à biblioteca do Supremo Tribunal Federal (STF) talvez não saiba que se trata de uma produção do colorista, ou melhor, construtivista, Luiz Pereira da Costa.
A obra ganhou ainda mais destaque e visibilidade no mês passado, quando serviu de cenário para o pronunciamento em rede nacional da ministra Cármen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), às vésperas do segundo turno das eleições de 2024.
Luiz da Costa, como prefere ser chamado, é artista da cidade e tem três pinturas no Tribunal. “Alegria de pintar” é a mais conhecida: um painel com 10 m x 20 m, localizado na Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal. As outras duas, “Lambe-lambe” e “Festa na Rodoviária”, medem 2,5 m x 1,7 m e estão na cobertura e no quarto andar do anexo II-A.
Pintor e escultor, o mineiro de 69 anos, natural da Serra dos Aimorés, região próxima ao Vale do Jequitinhonha, se define como “construtivista”. O termo faz menção ao Construtivismo, movimento artístico do início do século XX que influenciou o modernismo e usou formas abstratas e geométricas para buscar uma alternância de perspectivas e movimentos por meio de cores e linhas. Na pintura em duas dimensões, como a de Costa, dá-se mais ênfase ao espaço do que à matéria em si, traço marcante e característico da produção desse artista.
Casado há 40 anos com a companheira Ceicinha e pai de dois filhos, Luiz Costa ainda se mantém fiel a alguns conceitos que marcaram toda sua trajetória como artista. “As mesmas tonalidades se mantêm desde os anos 1970. O vermelho, o amarelo, o preto e o branco, a maneira como uso a cor pura, minha arte sempre foi colorida”, ressalta.
Brasília e inspiração
Luiz Costa faz parte de um grupo de artistas que, em meados dos anos 1970, começou a ganhar notoriedade em Brasília ao retratar a capital a partir de uma linguagem pictórica própria, marcada pelo uso intenso de cores, luz e formas geométricas.
O pintor lembra, com exatidão, um dos momentos mais marcantes da carreira. “Em 1979, mandei um quadro para uma mostra de arte, encorajado pelos amigos, e ganhei um prêmio. Já era um pintor pronto, mas naquele momento tomei a decisão de ser artista e viver da obra”, declara.
Diz também que teve a influência de um grupo de artistas variados, entre nomes nacionais e internacionais, que o levaram a adotar a repetição como uma das técnicas principais. “As grandes referências aqui em Brasília foram Alfredo Volpi, Athos Bulcão e Oscar Niemeyer. O Volpi, maior pintor brasileiro do século, tinha a repetição como característica. Em visitas pela América do Sul, descobri Torres Garcia, construtivista uruguaio teimoso na repetição. Em Brasília, temos uma geometria especial, uma riscadura rigorosa”, afirma.
Relação com o Tribunal
O encontro do artista com o STF aconteceu em 2000, durante a gestão do ministro Carlos Velloso à frente do Tribunal. Após ser agraciado pelos governos federal e do Estado de São Paulo e pela Fundação Carlos Gomes com o título de comendador e pintor revelação nacional naquele ano, ele expôs duas obras na biblioteca da Corte: “Festa na Rodoviária”, acrílica sobre tela feita em 1983; e “Lambe-lambe”, também acrílica sobre tela produzida em 1985.
Ao término da exposição, Luiz fez questão de doar os quadros para o acervo do STF. O elo estabelecido naquele momento foi tão forte que, no ano seguinte, em 2001, o artista venceu uma licitação para a execução de um mural no terceiro andar do edifício-sede, ainda sob a gestão do ministro Velloso. Foi quando concebeu “Alegria de Pintar”, painel com 10m x 2 m que hoje se encontra na biblioteca do Tribunal.
“Tive o prazer de conhecer e estar com muitas autoridades do Judiciário ao longo da minha carreira. Alguns ministros do STF foram meus clientes e têm quadros meus, como o saudoso Sepúlveda Pertence, o próprio Carlos Velloso, além do Dias Toffoli e do presidente Luís Roberto Barroso”, conta, orgulhoso.
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(Jorge Macedo/LM)