Maurício Corrêa lê em sessão plenária carta enviada pelo ministro aposentado Sydney Sanches

28/08/2003 17:51 - Atualizado há 8 meses atrás

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Maurício Corrêa, leu hoje (28/8) aos colegas na abertura da sessão plenária carta recebida do ministro Sydney Sanches, aposentado em 26 de abril ´´ultimo. “O ministro Sydney Sanches foi uma figura exponencial da judicatura. Pontificou aqui durante todo este tempo e deixou muitas saudade. Seguramente, um acervo inestimável”, comentou o presidente do STF ao concluir a leitura do documento.


 


Leia a íntegra da carta.


 


 


“Na sessão plenária do  Supremo Tribunal Federal, às vésperas de minha aposentadoria compulsória por completar o limite de idade de permanência no serviço público, e que ocorreu em 26 de abril, fui contemplado com generosas palavras do eminente ministro Sepúlveda Pertence, em nome da Corte;do então procurador-geral da República, doutor Geraldo Brindeiro, e da ilustre advogada Luciana Moreira Gomes. Em seguida proferi palavras de profundo agradecimento e de despedida, com a emoção que se possa imaginar e com alívio que fica na alma, com a sensação de dever cumprido.


 


Imaginei que em tais circunstâncias não fosse necessária uma carta formal de despedida, praticamente com o mesmo conteúdo.Quando de meu comparecimento à solenidade de homenagem prestada a V. Exª pela Academia Paulista de Magistrados, a 14 de agosto corrente, fui,  porém,  alertado de que a falta de minha carta de despedida, além de quebrar a antiga praxe do Tribunal, poderia ser interpretada como manifestação de algum ressentimento meu. Até porque os ministros Moreira Alves e Ilmar Galvão, recentemente saudados em circunstâncias assemelhadas de aposentadoria, além do agradecimento em Plenário, dirigiram depois à presidência da Corte a carta formal de despedida  Penitenciando-me do mau entendido, a que possa ter dado causa, peço respeitosa licença a V. Exª para  reproduzir aqui minha manifestação na última sessão de que participei.


 


Comecei a trabalhar quando tinha 11 anos de idade, no ano de 1944, em serventia de Justiça, Cartório de Registro de Imóveis, Júri e Anexos,  que tinha como titular o coronel Ubaldo Guimarães Espínola, em Pitangueiras, estado de São Paulo, Cartório Cumulativo Judicial e Extrajudicial. Desde então, nunca mais me afastei direta ou indiretamente da Justiça, pois fui fiel de cartório, auxiliar datilógrafo, escrevente, advogado e juiz em São Paulo desde 18 de janeiro de 1962, passando pelo interior e pela capital, em Tribunais de Alçada Criminal e Civil, chegando a desembargador do Tribunal de Justiça do Estado, em 1980.


 


Para essa Corte fui nomeado pelo presidente João Baptista de Oliveira Figueredo, tomando posse a 31 de agosto de 1984, mais de 22 anos, portanto, após o ingresso na Magistratura por concurso público. Era presidente do Tribunal, o ministro Cordeiro Guerra e seus demais juízes: Moreira Alves, Djaci Falcão, Soares Muñoz, Decio Miranda, Rafael Mayer, Néri da Silveira, Oscar Corrêa, Aldir Passarinho e Francisco Rezek.


 


Depois de minha chegada, vieram a integrá-la Octávio Gallotti, Carlos Madeira, Célio Borja, Paulo Brossard, Sepúlveda Pertence, Celso de Mello, Carlos Velloso, Marco Aurélio, Ilmar Galvão, Maurício Corrêa, Nelson Jobim, Ellen Gracie e Gilmar Mendes. Com todos aprendi e de todos recebi o tratamento mais amistoso e compreensivo.


 


Durante os 18 anos e  oito meses de permanência na Corte, foram  procuradores-gerais da República, pela ordem sucessiva, Inocêncio Mártires Coelho, José Paulo Sepúlveda Pertence, Aristides Junqueira Alvarenga e Geraldo Brindeiro. Todos honrando sobremaneira o Ministério Público Federal.


 


Ouvi em sustentações orais os advogados mais cultos, mais combativos, mais zelosos e mais persuasivos que se possa imaginar. E com todos  mantive as relações mais cordiais.Recebi dos servidores da Casa todas as atenções, impressionado sempre,  com sua dedicação e seu amor pelo Tribunal.


 


Nesse ponto, quero destacar os que mais de perto me serviram no gabinete, revelando notável capacidade de trabalho, exemplar eficiência, invulgar senso de equipe e de responsabilidade funcional e de admirável espírito público. A todos agradeço por essa valiosíssima colaboração.


 


Peço, pois, a V. Exª, senhor presidente, que faça constar no prontuário de cada um deles essas minhas palavras de reconhecimento, gratidão e incentivo. Se for necessário, renovarei o pedido pela via própria oportunamente.


 


Agradeço, ainda,  ao ministro Sepúlveda Pertence, ao procurador-geral da República, doutor Geraldo Brindeiro, e à advogada, doutora Luciana Gomes, pelas palavras generosas que a  meu respeito acabam de proferir.


 


Ao fim desses 59 anos de serviço, dos quais mais de 41 anos dedicados à Magistratura, quero agradecer,  também,  a minha família, aqui representada por minha esposa, Eucides Paro Rodrigues Sanches, pelo amor, pela compreensão, pelo desvelo, pelo companheirismo, pela bondade e pelo incentivo, com que nunca me faltaram.


 


Por fim agradecer a Deus, Nosso Pai, por haver me permitido ser juiz, como eu lhe pedi um dia e mais,  por me haver permitido chegar ao Supremo Tribunal Federal e à sua presidência.


 


Senhor presidente, reafirmo meu grande respeito pelo Supremo Tribunal Federal;  reitero a todos os juízes, ex-juízes, representantes do Ministério Público Federal, advogados e servidores da Casa a que me referi, incluídos os de meu antigo gabinete e já nesse ensejo renovo os votos de que os novos integrantes da Corte, ministros Joaquim Barbosa, Carlos Britto e Cesar Peluso sejam muito felizes na judicatura.


 


 Apresento ao então presidente, ministro Marco Aurélio, e a vossa excelência, atual presidente Maurício Corrêa, a expressão de meu sincero apreço e altíssima consideração.


 


Cordialmente,


 


Sydney Sanches


 



Presidente do STF fez a leitura da carta de Sydney Sanches (cópia em alta resolução)

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