Judiciário tem papel de protagonismo no funcionamento do Estado, diz Lewandowski
A importância do Judiciário no processo de construção do Estado foi um dos temas abordados pelo presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, em sua participação em seminário organizado pela AMB.
No século XXI a Justiça tende a ter um papel de protagonismo no funcionamento do Estado, assim como em séculos anteriores os poderes Legislativo e Executivo assumiram posições de maior relevo. Numa época em que direitos humanos e fundamentais estão fartamente assegurados na legislação, falta ainda sua concretização. E é dever dos magistrados executar essa tarefa.
A importância do Judiciário no processo de construção do Estado foi um dos temas abordados pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, em sua participação no seminário “República – Impasses da Democracia Brasileira”, organizado pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). O presidente do STF participou da abertura do seminário nesta sexta-feira (21) em mesa composta pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e pelo presidente da AMB, João Ricardo Costa.
Concretização de direitos
De acordo com o ministro Ricardo Lewandowski, depois do surgimento dos direitos individuais, como o direito à propriedade e à liberdade expressão, ainda no século XIX o mundo viu surgirem os chamados direitos sociais. Entre estes, estão o direito ao trabalho, saúde, educação, cultura, e à previdência social. No século XX, surgem novos direitos, chamados também de “ terceira geração”, e começa-se a falar em direitos de solidariedade e fraternidade, com destaque para o ramo do direito ao meio ambiente.
Ricardo Lewandowski afirma que por esse caminho chegamos àquilo que o pensador Norberto Bobbio chamou “era dos direitos”, um contexto em que o papel do Judiciário cresce enormemente, o que também traz para os juízes uma responsabilidade muito grande.
“Segundo Bobbio, essa era dos direitos corresponde a um avanço moral da humanidade. Mas não se trata mais agora de estudar os direitos humanos e fundamentais, nem de escrevê-los em tratados e nas constituições, porque já são fartamente conhecidos. Trata-se agora de concretizá-los. E é dever dos magistrados e das magistradas levar a cabo essa função”, afirmou.
Século do Judiciário
Segundo a reflexão do presidente do STF, o Judiciário assume no momento também um papel fundamental no funcionamento do Estado, como em momentos anteriores coube a outros poderes. O século XIX foi o século do Poder Legislativo, pois foi um momento em que a soberania popular se manifestava por meio de seus representantes, decidindo grandes questões relativas à organização da sociedade. O século XX, por sua vez, foi o século do Executivo, porque passou por fenômenos extremos como grandes guerras, revoluções, e pelas transformações trazidas pela globalização. Nesse contexto, o único poder mais aparelhado para reagir de forma rápida e eficaz a essas provocações era o Executivo.
Já os grandes problemas hoje, entre eles a própria governabilidade, estão nas mãos do Judiciário. “Os juízes hoje fazem parte da confecção e da elaboração das próprias políticas públicas, como na área do consumidor, do meio ambiente, dos povos indígenas, da proteção à criança e ao adolescente, ao idoso e aos deficientes físicos. Portanto, a nossa responsabilidade neste momento é enorme”, afirmou.
FT/EH