Iniciada no STF audiência pública sobre regime prisional
Transmitida ao vivo pela TV Justiça e pela Rádio Justiça, a audiência acontece na sala de sessões da Segunda Turma do STF, nesta segunda e terça-feiras, a partir das 9h.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes abriu na manhã desta segunda-feira (27) a audiência pública sobre regime prisional. Segundo ele, a questão que parece “singela”, à primeira vista, na verdade é bastante complexa. “A execução penal no Brasil talvez seja uma das áreas em que a realidade mais se distancia da letra da lei”, afirmou.
O ministro informou que praticamente não existe no sistema penitenciário a possibilidade de cumprimento da pena nos regimes aberto e semiaberto, fato que leva cerca de 20 mil presos a cumprir a pena em condições mais graves do que as previstas em suas condenações. “Temos um grave problema no que diz respeito ao funcionamento do sistema prisional e certamente teremos oportunidade de examinar isso ao longo da audiência pública.”
De acordo com ele, o país convive com um sistema penitenciário “à beira do colapso”, em que, conforme constatado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio dos mutirões carcerários, “mais de 500 mil presos estão amontoados em prisões superlotadas e em precárias condições”. “Além dessas mazelas que todos conhecemos, há ainda o grave fato de que a progressão de regime no cumprimento da pena quase que existe apenas no aspecto formal.”
Para Gilmar Mendes, “é chegada a hora de interpretar-se o dispositivo constitucional que atribui a competência à União para assegurar a defesa nacional como uma intimação constitucional a sua maior atuação no combate à criminalidade organizada que ameaça o Estado brasileiro e toda a sociedade. É preciso que a União assuma de uma vez por todas o seu papel de liderança e isso envolve não só a Administração Pública federal, mas também outros órgãos, inclusive aqueles que integram o Poder Judiciário, como o CNJ.”
A subprocuradora da República Raquel Dodge afirmou que “a falta de vagas no sistema prisional é um problema crônico e crescente” que leva ao “cumprimento de pena em condições cruéis e ofensivas à condição humana”. Ela defendeu uma solução normativa, de forma a obrigar os Estados e a União a investir na área prisional em prazo determinado. “Há verbas para desfazer a crônica situação de crueldade de nosso sistema prisional.”
A audiência pública ocorrerá durante todo o dia de hoje e a manhã de terça-feira (28). Nela, 33 especialistas na área, entre juízes, promotores, defensores públicos, advogados, secretários de Segurança Pública, representantes do Ministério da Justiça, da OAB e do CNJ debaterão se a falta de vagas para o cumprimento de penas em regime semiaberto permite que o condenado cumpra pena em regime aberto.
Os debates vão subsidiar o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 641320, no qual o Ministério Público do Rio Grande do Sul questiona decisão do Tribunal de Justiça do Estado que concedeu prisão domiciliar a um condenado porque não havia vaga em estabelecimento para que cumprisse pena em regime semiaberto, no qual o preso passa o dia fora, estudando ou trabalhando, e é recolhido para o pernoite.
O MP-RS considera que a decisão ofende o princípio da individualização da pena, na medida em que “padroniza as penas e iguala os desiguais”. O MP alega que o regime aberto foi decretado de “forma genérica e abstrata”, sem a análise das particularidades do caso. O RE tem repercussão geral reconhecida, o que significa que a decisão que os ministros do STF tomarem no processo será aplicada a todos os recursos semelhantes.
A audiência acontece na Sala de Sessões da Segunda Turma do STF, localizada no 4º andar do Anexo II do STF, e está sendo transmitida pela TV Justiça e pela Rádio Justiça. Hoje, as palestras ocorrerão em dois períodos, das 9h às 12h e das 14h às 17h, com a participação de 25 expositores. No dia 28, a audiência será realizada das 9h às 12h, com apresentações de outros oito participantes. Cada instituição inscrita tem 15 minutos para sua apresentação.
RR/EH
Veja a lista de palestrantes da manhã desta segunda-feira:
Nilton Leonel Arnecke Maria |
Defensor Público-Geral |
Defensoria Pública Geral do Estado do Rio Grande do Sul |
Haman Tabosa de Moraes e Córdova |
Defensor Público-Geral Federal |
Defensoria Pública da União |
Aline Lima de Paula Miranda |
Defensora Pública |
Defensoria Pública do Estado do Ceará |
Humberto Carlos Nunes |
Defensor Público |
Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo |
André Renato Robelo Rossignolo |
Defensor Público de Entrância Especial |
Defensoria Pública do Estado do Mato Grosso |
José Adaumir Arruda da Silva |
Defensor Público-Geral |
Defensoria Pública do Estado do Pará |
Arthur Corrêa da Silva Neto |
Defensor Público-Geral |
Defensoria Pública do Estado do Pará |
Daniela Sollberger Cembranelli |
Defensora Pública-Geral |
Defensoria Pública do Estado de São Paulo |
Massimiliano Antônio Russo |
Advogado |
Pastoral Carcerária – CNBB |
Marcos Fuchs |
Advogado |
Conectas Direitos Humanos |
Sidinei José Brzuska |
Juiz de Direito |
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul |
José de Ribamar Fróz Sobrinho |
Desembargador |
Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão |