Senador Cunha Lima é interrogado pelo Supremo

09/12/2002 16:34 - Atualizado há 9 meses atrás

O senador Ronaldo Cunha Lima (PSDB/PB), foi interrogado hoje pela manhã, no Supremo Tribunal Federal, quando prestou informações sobre os dois tiros que disparou, em dezembro 1993, contra o ex-governador Tarcísio de Miranda Buriti. Na época, Cunha Lima era o governador da Paraíba


 


No interrogatório de hoje (AP 333), tomado pelo ministro-relator, Moreira Alves, Cunha Lima admitiu que era inimigo pessoal da vítima e que oferecia restrições a duas testemunhas de Tarcisio Buriti no processo: Marconi Góes e Valdir dos Santos Lima, por também serem inimigos pessoais e estarem em litígio na ação por crime contra a honra que o Senador paraibano move contra eles.


 


Ele negou que a tentativa de homicídio de que é acusado tenha sido premeditada e que o ocorrido foi conseqüência das difamações, agressões morais e ameaças que ele e sua família vinham sofrendo do ex-governador Buriti.


 


O parlamentar lembrou ainda que, por diversas ocasiões, antes do crime, o ex-governador utilizava o programa de rádio de um “falso” padre Júlio, que disparava palavrões e mentiras contra ele e sua família. O próprio Tarcísio Buriti, segundo o senador, ameaçava-o de morte entre os amigos. “Ele dizia que onde me encontrasse atiraria em mim e que treinava tiro ao alvo com a minha fotografia na Academia de Polícia Militar”.


 


Em seu depoimento afirmou que fora avisado por um jornalista das ameaças e aconselhado por ele e pelos dirigentes do Gabinete Militar da sede do governo paraibano a reforçar sua segurança pessoal. O senador lembrou que dispensou as recomendações e que preferiu entregar seu destino “aos cuidados de Deus”.


 


Em outra afirmação feita pelo parlamentar no depoimento ao ministro Moreira Alves, Cunha Lima ressaltou que Tarcísio Buriti continuou os ataques contra ele e seu filho Cássio Cunha Lima – à época, superintendente da Sudene -, nos comícios durante a campanha eleitoral de 1994, e por fax para vários Estados, visando, segundo sugeriu, a repercussão na Paraíba.


 


O senador prometeu, na fase processual apropriada, entregar ao relator Moreira Alves, todas as fitas e demais gravações onde o “falso” padre Julio estende suas agressões ao vice-governador e outras autoridades estaduais e federais ligadas à sua gestão no governo da Paraíba. O depoente reproduziu duas frases ofensivas do padre Júlio que lhe teriam marcado.


 


O senador defendeu-se da acusação de que teria premeditado o crime. Para provar a declaração, revelou que não sabe atirar e que apenas no dia do crime carregava, no bolso traseiro da calça, o revolver que usou nos disparos contra o ex-governador Buriti.


 


Cunha Lima disse que no dia anterior ao crime, convocara o procurador-geral do estado, desembargador Luiz Bronzeado, para discutirem as medidas judiciais contra as ofensas do ex-governador Tarcísio Buriti. No mesmo dia reuniu-se também com o vice-governador, o presidente da Assembléia Legislativa e o líder do governo para debaterem reajustes salariais e outras medidas  serem adotadas pelo governo. Depois disso, à noite, não conseguiu dormir e pediu ajuda da irmã, médica, que lhe receitou sedativos.


No dia do Crime, as autoridades com as quais se reuniu no palácio convidaram-no para almoçar, como faziam toda sexta-feira, no restaurante Gulliver, no Centro de João Pessoa. Em seu depoimento, o senador informou que dispensou a segurança e ao entrar no restaurante percebeu que na mesa ao lado da sua, estava Tarcísio Buriti ladeado por alguns amigos.


 


Ele dirigiu-se ao ex-governador e, como afirmou, lembrou-se das agressões e ameaças, que lhe tomaram o espírito. “Você é convarde”, disse, em pé, Cunha Lima a Buriti; e completou: “assuma suas atitudes. Não mande os outros fazerem”. Ao que Tarcísio Buriti teria respondido, segundo Cunha Lima: “É isso mesmo!”, momento em que bateu com as duas mãos na mesa.


 


Ronaldo Cunha Lima, ao notar que Buriti abaixara uma das mãos e desconfiando daquele movimento, conforme explicou ao ministro Moreira Alves, tirou o revólver e disparou contra a boca do ex-governador paraibano. Ele admite um disparo e afirma não se lembrar do outro, conforme consta da denúncia formulada pelo Ministério Público.


 


Em fuga, Cunha Lima foi interceptado pela Polícia Rodoviária Federal, que o conduziu a um delegado da Superintendência da Polícia Federal em Campina Grande, onde prestou depoimento e ficou detido até o dia seguinte.


 


O ministro Moreira Alves informou que a partir de agora, Ronaldo Cunha Lima tem prazo de 5 dias para apresentar defesa prévia, conforme a Lei 8.038, de maio de 1990.


 



Senador Cunha Lima, durante interrogatório (cópia em alta resolução)


 


SD/JY//AM

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