Representante da Fundação Cultural Palmares fala em favor das cotas para ingresso de negros no ensino superior
Favorável ao ingresso de negros em universidades públicas pelo sistema de cotas, Luiz Felipe de Alencastro, professor titular da Cátedra de História do Brasil da Universidade de Paris-Sorbonne, representou a Fundação Cultural Palmares na audiência pública que o Supremo Tribunal Federal (STF) realiza para discutir o tema. Ele falou sobre o racismo na formação da população brasileira e sobre as “desvantagens sociais para a população negra, alvo de discriminação racial, no acesso aos bens materiais e imateriais produzidos em nossa sociedade”.
Alencastro revelou que, neste ano de 2010, os brasileiros afrodescendentes – cidadãos que se autodefinem como pretos e pardos – passam a formar a maioria da população do país. Segundo o professor, essa mudança vai muito além da demografia, trazendo ensinamentos sobre passado e também desafios para o futuro, que mostram a densa presença da população negra na formação do povo brasileiro.
“Todos nós sabemos que esta presença originou-se e desenvolveu-se na violência”, disse, ao referir-se sobre a prática punitiva da tortura policial. No entanto, ele ressaltou que, apesar de os negros terem sido o principal alvo da violência da polícia, esta se estendeu aos pobres em geral.
O professor destacou que nenhum país americano praticou a escravidão em tão larga escala como o Brasil. “Do total de cerca de 11 milhões de africanos deportados e chegados vivos nas Américas, 44%, perto de 5 milhões, vieram para o território brasileiro no período de três séculos”, contou.
De acordo com Alencastro, a redução das discriminações que ainda pesam sobre os negros consolidará a democracia brasileira. “Portanto, não se trata aqui de uma simples lógica indenizatória destinada a quitar dívidas da história, como foi o caso, em boa medida, dos memoráveis julgamentos desta Corte sobre a demarcação de terras indígenas”, destacou.
O professor informou que, conforme as estatísticas, a entrada na universidade constitui o ponto de estrangulamento essencial da discriminação racial e da diferença de oportunidades que há no Brasil. O âmbito universitário já foi enriquecido com a presença dos estudantes que entraram pelo sistema de cotas nas comunidades universitária e científica.
Ao final, Luiz Felipe de Alencastro entendeu que a questão, que é carregada de emoção no Brasil, não deveria ser apresentada como um corte entre direita e esquerda, governo e oposição. “A existência de alianças transversais devem nos conduzir, mesmo num ano de eleições, a um debate menos ideologizado, onde os argumentos de uns e de outros possam ser analisados e levados ao sábio juízo desta Corte, a fim de contribuir para a superação da desigualdade social que pesa sobre os negros e a democracia brasileira”, concluiu.
EC/RR
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