Adolescentes entrevistam ministros do STF em gravação especial da Rádio Justiça
Três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) participaram, nesta sexta-feira, da gravação especial da Rádio Justiça, conduzida por adolescentes, que irá ao ar neste domingo. O ministro Carlos Ayres Britto falou sobre poesia e o ministro Eros Grau explicou sobre o que é preciso para tomar decisões como juiz. Já o presidente da Corte, ministro Gilmar Mendes, comentou a aplicação da Justiça no País.
A iniciativa da emissora faz parte do Dia Internacional da Criança na Mídia, promovido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e que teve a Rádio Justiça como única emissora brasileira a dedicar 24 horas de programação a conteúdo produzido e apresentado por crianças e adolescentes matriculados na rede pública de ensino ou cadastrados em programas sociais do governo.
Gilmar Mendes concedeu entrevista aos estudantes Jéssica Trejos Mendes e Cássio Eduardo Silveira Xavier, ambos da 8ª série do Centro de Ensino Fundamental 104 Norte, escola pública localizada na área central de Brasília. O ministro explicou que a função básica da Justiça brasileira é produzir a paz social. “Em geral as pessoas vêm à Justiça porque não conseguiram resolver suas questões, suas brigas; e é preciso que elas saiam convencidas, tanto quanto o possível, de que (o juiz) aplicou devidamente o Direito”, disse.
Ele reconheceu que a aplicação da Justiça na sociedade pode melhorar. “Queremos uma justiça rápida, limpa, digna de todos nós e que conhece os nossos problemas”, admitiu. “Aqueles que têm experiência com processos pedem uma Justiça mais rápida, pois querem saber logo se têm direito ao que pedem ou não. Também queremos uma Justiça limpa, sem corrupção”, completou. Segundo ele, o maior obstáculo atualmente do Poder Judiciário é a carência de juízes, de servidores e de informatização.
Varas da infância
O presidente do Supremo explicou, na Rádio Justiça, a importância da própria Corte, dos tribunais superiores, das justiças dos estados e da Justiça Federal, além dos juizados especiais (de pequenas causas) – que resolvem controvérsias de valor mais barato de uma maneira mais rápida. Gilmar Mendes também destacou o valor das varas da infância e da juventude. “Elas acompanham os direitos das crianças, os eventuais abusos, violações e incompatibilidades”. Segundo ele, essas varas são prioridade do CNJ neste ano.
Ele definiu como “fundamental” o contato das crianças com a Justiça. Para a estudante Jéssica Mendes, o melhor da conversa foi a orientação que o presidente do Supremo deu para os jovens buscarem a paz. “Achei uma experiência ótima conversar com um juiz. Eu sempre achei que os juízes são pessoas como a gente, embora ele tenha estudado muito para ter essa profissão”, afirmou.
O colega de classe e de estúdio de Jéssica, Cássio Xavier, contou que já conhecia bem o funcionamento do Supremo antes mesmo de chegar. “Eu assisto à TV Justiça e já acompanho muito o ministro Joaquim Barbosa. O meu pai diz que se eu quiser, eu também posso chegar lá, como ele”, ressaltou o menino.
Poesias
O ministro Carlos Ayres Britto também participou das gravações, num programa no qual o tema era de seu interesse pessoal: a poesia. Ele avaliou os textos de dois adolescentes que cumprem medidas socioeducativas por terem infringido a lei. “Eles têm conteúdo, mensagem e sentimento”, comentou Ayres Britto. De acordo com o magistrado, que escreve nesse mesmo gênero literário nas horas de folga, os dois pequenos autores demonstraram a capacidade de sentir. “Ela é mais importante do que pensar, porque sentir nos humaniza, nos conduz para o outro, para a solidariedade”.
Ayres Britto presenteou os dois com livros que ele escreveu e deixou dois conselhos aos novos poetas. “Primeiro lembrem-se de que é possível transformar o mundo e, para isso, precisamos nos transformar primeiro. O segundo conselho é que vocês leiam. Ler não dói, é prazeroso”.
Carreira de juiz
Na sua participação como entrevistado do programa “Tudo começa na Escola”, o ministro Eros Grau contou aos repórteres-mirins como chegou ao cargo do ministro do Supremo. “Eu estudei muito, mas tive um pouco de sorte, porque você sabe, a vida é uma luta danada e a gente tem de vencer vários obstáculos”, desabafou o ministro. Ele começou a carreira como professor de cursinho e sempre deu aula, principalmente na Universidade de São Paulo (USP). “Mais importante do que ser professor é a gente estudar”, observou.
Os alunos questionaram o quanto ele pesquisa antes de tomar uma decisão. “Cada vez que a gente toma uma decisão, interfere na vida dos outros e isso não é fácil, por isso é preciso pesquisar, refletir, procurar ser justo e ver o que o tribunal decidiu em outros casos antes”, explicou. Ele mostrou que o equilíbrio é a base das decisões. “Só vamos ter equilíbrio à medida que os que têm pouco, tenham mais e os que têm demais entreguem um pouco do que têm às pessoas que estão precisando. Essa é a balança da Justiça”, definiu. Segundo o ministro, uma maneira de fazer justiça é defender os jovens e os mais fracos.
Eros Grau disse que já “está ficando velhinho”, e que a geração das crianças de hoje será a responsável por trazer mais paz para a sociedade do futuro. “Aí será até possível que não precise ter juiz, se as coisas se solucionarem com a conversa”, estimou.
MG/EH