Representante de rede feminista expôs relato de mulheres após diagnóstico de gravidez de anencéfalo
A representante da Rede Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, Lia Zanotta Machado, expôs durante a sua participação na audiência pública os depoimentos de quatro mulheres que viveram o diagnóstico de gerar um bebê anencéfalo – Erica, Camila, Dulcéia e Michele.
Professora de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), Lia Zanotta relatou a reação de Erica após receber a informação do médico de que seu bebê tinha um “problema”. Ela logo indagou se o caso tinha solução, mas a resposta foi negativa. Ao receber o consolo de um funcionário da clínica para que tivesse esperança após o nascimento de seu filho, ela retrucou com a idéia de que “nunca um cérebro apareceria do nada”. Convicta de que o bebê não sobreviveria e que a ciência não tinha explicações para o caso, ela encarava o crescimento da barriga durante a gravidez como uma tortura. Então, optou pela antecipação do parto, autorizada enquanto vigorou a decisão liminar do ministro Marco Aurélio, e diz não ter se arrependido. “Se fosse para ser saudável, seria desde o começo”.
Camila contou que ficou sem reação após a notícia e que perdeu o total interesse pela sua própria vida. “Não me penteava, não me levantava, era como se eu não quisesse mais viver”. Ela relata que sentir o bebê se mexendo dentro da barriga e viver com a idéia de ter de registrá-lo e enterrá-lo era doloroso. Após 10 dias de espera pela decisão judicial, Camila pode antecipar o parto e pôs fim à perturbação que a cercava.
Já Dulcéia, mãe de 7 filhos, relatou exame de ultra-som em recente gravidez com anencefalia. “O radiologista olhou para a tela, olhou pra mim, meu coração deu um estalo”. Ela conta que se sentiu a pior mulher do mundo e que seu companheiro não acreditou na notícia.
Michele, o último caso a ser relatado, enfrentou dificuldades para engravidar e se submeteu a tratamento especial para conseguir ter o primeiro filho. “Ele foi desejado, amado, esperado”. Após um ano de tentativas veio a confirmação da gravidez e junto o diagnóstico de anencefalia. Presente na audiência, ela falou que, no primeiro ultra-som, quis dar continuidade à gravidez, mas, após a terceira confirmação do diagnóstico, decidiu pela antecipação do parto. Depois do trauma, ela só conseguiu se tranqüilizar após passados sete meses da segunda gravidez.
Segundo a professora Lia Zanotta, todas viveram na certeza da morte cerebral já ocorrida ou da curta duração após o parto, com vida vegetativa.
GS/EH