“Pneu não é lixo”, diz especialista em gestão de resíduos
O doutor em gestão de resíduos Paulo Janissek frisou, durante a audiência pública que debate a vedação de o Brasil importar pneus, que esse produto, mesmo no final da vida útil, não pode ser considerado lixo. Segundo ele, se o produto for incinerado, pode-se recuperar energia. Se tiver outra destinação, gera o reaproveitamento de material. "Se for co-processado, aproveitam-se ambos”, comparou.
Ele esclareceu que, ao colocar pneus inteiros em fornos de cimento com calor acima de 1,4 mil graus Celsius, os componentes orgânicos viram energia e a parte inorgânica, que tem alta resistência e por isso não é destruída, transforma-se num material inerte incorporado ao produto final (o cimento).
Janissek disse que, no processamento do xisto (rocha betuminosa extraída a céu aberto), o pneu é integrado e forma material aproveitável em siderúrgicas (parte inorgânica) ou vira óleo, água, gás e resíduo inerte que pode ser colocado em pisos e cerâmicas (parte orgânica). “Desde o início da operação já se reciclou nove milhões de pneus e temos a capacidade, que não é utilizada, de co-processar na extração do xisto até 27 milhões de pneus por ano”, estimou. “Esse processo tem licenças ambientais e ganhou, inclusive, um prêmio de expressão ecológica.”
Menos petróleo extraído
O acadêmico reconheceu que o co-processamento de pneus gera gás carbônico, contribuindo para o aumento do efeito estufa terrestre. No entanto, ele diz que a reciclagem dos pneus, por outro lado, evita que seja retirado mais petróleo do interior da terra.
“Ao co-processar pneus, deixamos de extrair petróleo e reciclamos o carbono que já estava, de qualquer maneira, dentro do meio ambiente – o que pode até permitir a solicitação de créditos de carbono”, disse Janissek.
MG/LF