Herbert Praxedes defende o uso de células-tronco adultas como opção ética para a pesquisa científica

O doutor Herbert Praxedes, indicado pelo Procurador-Geral da República, defendeu o uso de células-tronco adultas como opção ética – no lugar da utilização de células embrionárias – para a pesquisa científica. Praxedes é médico hematologista, professor emérito e coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A lição grega
Em sua exposição, o professor lembrou a lição grega da peça teatral Antígona, de Sófocles que, em 480 a.C., encenou a história de três irmãos, herdeiros de um rei que havia morrido, onde dois deles lutam pelo trono. Um deles matou o irmão e publicou uma lei que proibia o enterro do corpo de seu oponente, sujeitando quem o desobedecesse, à pena de morte. No entanto, Antígona descumpriu o édito real, e justificou seu ato com um discurso sobre a “ilicitude de se legislar sobre princípios eternos”.
Para o professor, da lição grega pode-se tirar a premissa moral, que deve ser utilizada para todos os atos humanos, de que “nem tudo o que se pode fazer, deve ser feito. Assim, a moral é o denominador comum de todos os atos humanos”. Ele continuou lembrando que, de acordo com a metafísica dos costumes, de Emmanuel Kant, “a dignidade é o princípio moral que enuncia que a pessoa humana não deve nunca ser tratada apenas como um meio, mas como um fim em si mesma”.
A indignação dos cientistas nos EUA
O professor citou carta de 57 cientistas norte-americanos encaminhada a um candidato à presidência dos EUA que tinha como peça central da plataforma política a promoção da pesquisa de células-tronco embrionárias, inclusive a clonagem de embriões humanos para fins de pesquisa. O candidato justificava sua prioridade em respeito à ciência, que deve ser isenta de ideologia, “para proporcionar “as curas miraculosas para numerosas doenças”.
Aqueles cientistas se mostraram alarmados com as justificativas do candidato que, para eles, “essas colocações representam inadequadamente a ciência, pois a ciência não é uma política ou um programa político, ela é um método sistemático para se desenvolver e testar hipóteses sobre o mundo físico. Ela não promete curas miraculosas com provas inconsistentes”. A carta dos cientistas lembrou ao candidato que ele mesmo havia declarado que a fertilização produz um ser humano. Na carta eles advertiram o candidato: “Equiparar o interesse desses seres a uma mera ideologia é negar toda a história dos esforços para proteger seres humanos da pesquisa abusiva”.
Lembrando a exposição da doutora Alice Teixeira Ferreira, o doutor Praxedes afirmou que “atualmente as células-tronco embrionárias só podem ser obtidas pela destruição de embriões no estágio de blastocistos, entre quatro e sete dias de idade, elas proliferam rapidamente e são extremamente versáteis, para, no embrião, formar qualquer tipo de célula do corpo humano desenvolvido”.
No entanto, continuou o coordenador de bioética, “após 25 anos de pesquisa utilizando células-tronco embrionárias de ratos indicaram efeitos colaterais sérios e potencialmente letais. Não há prova de que a clonagem virá prevenir toda a rejeição das células-tronco embrionárias, pois mesmo células embrionárias compatíveis de clones são rejeitadas por hospedeiros animais”.
O avanço da pesquisa com células-tronco adultas
Por outro lado as pesquisas com células-tronco adultas tem trajetória muito diferente, “como a descoberta de benefícios clínicos indubitáveis, como os transplantes de medula óssea, que beneficiaram o tratamento de várias formas de câncer, por muitos anos, antes que fosse entendido que o ingrediente ativo desses transplantes eram as células-tronco adultas”, informou Praxedes. Essas células se encontram em vários tecidos do corpo humano, tais como sangue, nervos, gordura, pele, músculo, cordão umbilical, placenta, polpa dentária e no líquido amniótico. “Assim o uso dessas células não implica nenhum problema ético e poderá ser evitado o problema de rejeição de tecidos com o uso de células do próprio paciente”, afirmou o pesquisador.
O doutor Herbert Praxedes concluiu sua exposição ponderando que até hoje foram relatados mais de 146 casos de curas pelas células-tronco adultas, ao passo de que não se encontra “nenhuma referência à célula-tronco embrionária tratando ou melhorando, que seja, qualquer entidade”.
IN/LF
Dr. Herbert Praxedes é médico hematologista, professor emérito e coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF). (Cópia em alta resolução)