Pessoas com deficiência auditiva colaboram com projeto de digitalização de documentos no STF
Neste 26 de setembro, Dia Nacional do Surdo, contamos um pouco da jornada de 12 deficientes auditivos no Supremo Tribunal Federal (STF). Eles trabalham na equipe de digitalização de documentos e processos do Tribunal e fazem parte do programa de inclusão do STF em parceria com a Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe).
Desde abril deste ano, 24 pessoas com diferentes deficiências físicas e intelectuais, além de neurodivergências, passaram a trabalhar no Supremo.
Profissionalismo
O espaço de cerca 200 metros quadrados da seção de arquivo, localizada no prédio do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na 514 Norte, abriga mais de cinco mil caixas com documentos que deverão ser totalmente digitalizados. Higienizar, organizar e classificar o acervo estão entre as atividades da equipe que usa máscara, por precaução, para evitar o contato com poeira e ácaros.
Atualmente, esses profissionais surdos trabalham na digitalização de documentos administrativos do período de 2010 a 2015. Cada um conta com uma estação de trabalho – mesa e computador. Concentração, zelo, produção de qualidade e colaboração entre os colegas são algumas das características do grupo, destacadas por Ester Mauch, gerente da Seção de Arquivo. Ela lembra que a digitalização de documentos é um processo extenso, demorado e sensível, porque exige cuidado com a manipulação dos papéis, a exemplo de notas fiscais e recibos.
Experiência
O grupo apresenta diferentes graus de surdez e se comunica por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras). A maioria é formada por surdos profundos, ou seja, não escutam absolutamente nada, enquanto outros têm audição parcial. A leitura labial é utilizada por alguns deles.
É a primeira vez que Joziel Nascimento faz parte de uma equipe do Cetefe. Ele já havia trabalhado com estoques em fábricas de bebidas e de alimentos em São Paulo. Agora, no STF, tem gostado muito de digitalizar, higienizar e trabalhar com planilhas. “Isso tudo traz mais conhecimentos para mim”, afirmou, ao comentar que a presença de um intérprete no ambiente de trabalho ajuda muito.
Joziel é também jogador de futsal e no trabalho ele encontrou parceiros no esporte: Ederson Rocha e Aldo Ferreira. Já contamos a história deles na série Mais da gente. Confira.
Jaquelaine Lins é a única surda da família. Por ter muito contato com ouvintes, consegue fazer leitura labial com facilidade. Além de ter experiência em salão de beleza, ela já trabalhou com digitalização no Superior Tribunal Militar (STM) e afirmou que o trabalho no STF a ensina a ter paciência em razão do manuseio de papéis pequenos e sensíveis que demoram mais para digitalizar.
Surdo profundo, Aroldo Gomes também trabalhou no STM e disse que no Supremo está aprendendo cada vez mais a digitalizar as informações. “Tenho tido mais cautela e paciência. Estou há dois dias digitalizando o mesmo processo”, contou.
As entrevistas dessa reportagem foram traduzidas pelo supervisor e intérprete Julio Vitor.
Acervo digitalizado
Pessoas com deficiência já participaram de outra iniciativa de digitalização de documentos no STF em 2019. Elas contribuíram para o projeto “Acervo 100% Digital” com o objetivo de digitalizar documentos da Central do Cidadão, registros funcionais, prontuários, além de processos judiciais do Supremo. À época, foram digitalizados aproximadamente 20 mil volumes de processos físicos, atividade também realizada em parceria com a Cetefe.
Acessibilidade e inclusão
Em 2023, no início de sua gestão na Presidência do STF, o ministro Luís Roberto Barroso ressaltou a atuação da Corte na valorização de pessoas com deficiência, bem como no esforço de proporcionar acessibilidade e inclusão. Tudo isso a fim de promover os direitos fundamentais, em cumprimento à Constituição Federal.
Primeira pauta externa
As fotos dessa publicação foram feitas por Bruno Moura. Essa foi a primeira pauta externa realizada por ele, que tem síndrome de Down e é um dos profissionais contratados pelo STF por meio da parceria com o CETEFE.
(Edilene Cordeiro/LM//AL – SCO)